O quarto da fila.

Pro jantar decidimos que seria pizza, mas eu já estava cansada da mesma pizza gorda e sem recheio de sempre, aquele dia tinha batido uma homesick terrível e daí eu disse, eu vou fazer uma pizza de margerita, que é a minha preferida.
Fiz a lista do que precisava e saimos pro mercado, chegando lá a pizza que seria de margerita se tornou uma pizza de metade palmito com catupiry e quatro queijos ao mesmo tempo, por isso que eu sempre digo, sempre vá ao mercado de barriga cheia.
Nos dividimos pra não gastar muito tempo e fomos pegar tudo que precisávamos, até que demorou mais do que necessário esperando a Luiza terminar o joguinho a telinha que tem no mercado, ela nunca quer ficar lá, aquele dia ficou, por 5 minutos apenas, mas necessários.
Fomos pra fila então com nosso carrinho consideravelmente vazio, só com o que precisávamos para a pizza. Depois de alguns segundos percebemos que duas senhoras estavam criando uma fila paralela, eu vi e ignorei pois negocio de fila aqui na Holanda dá até em sangue se deixar, e também porque nós estávamos corretos e haviam mais pessoas atrás de nós.
As senhoras começaram a reclamar que estariam em nossa frente e tals, e que a fila era ali e não onde estávamos, normal até aqui, nínguem de nós respondeu nada deixamos elas lá com suas dúvidas e inseguranças. Quando de repente a gerente chega do nada o último da nossa fila grita: - Eu sou o quarto! Que soo mais como Eu sou Esparta, porque depois disso a confusão começou geral, as duas senhoras da fila paralela já não queriam estar mais na frente e a senhora a minha frente muito menos, o caixa parou e o Alfons debruçou no carrinho com as bochechas começando a vermelhar, quem conhece sabe o que significa.
A discussão geral era pra saber quem seria não o primeiro, nem o segundo, muito menos o terceiro mas sim o quarto da fila, ninguém queria estar mais na frente, até mesmo o que já estava pagando queria voltar pra tentar o quarto lugar, nunca houve um quarto lugar tão disputado, nunca houve algo tão fora de senso.
Com fome, homesick, e Alfons vermelho começou meu ataque de riso, eu estava tipo, geeeeenteem é serio isso? numa tarde tão gostosa de sexta feira e vocês saem de casa atras de emoção no mercado? Vovós vamos lá, bora pagar.
Todo mundo envolvido na discussão, e eu só ria olhando a gerente exaltada também a questionar, onde estaria o quarto.
Alfons nem olhava pro lado, já tava p* pois todos estavam parados naquela causa, foi dai que ele soltou, vamo mulherada, bora pagar, e a senhora da fila paralela respondeu:
-Mas caro, nós estamos discutindo pra você não precisar pagar. O Alfons olhou bem no olho dela e disse:
-Senhora eu só quero pagar e ir embora pra casa, com um tom de :
-Senhora, vá tnc e paga essa m* logo. Eu ria no momento e rio agora digitando.
Quando todos aos berros conseguiram achar quem seria o quarto, que não eramos nós, nem a senhora a frente de nós nem a de trás mas sim uma das senhoras gritonas da fila paralela, conseguimos então ainda pegar o quinto lugar, subimos no pódio também.
Um quarto lugar falso, diga-se de passagem, pois haviam apenas 2 pessoas na minha frente, e se a senhora da fila paralela queria mesmo estar na minha frente como no começo, então seriam 3 e ela seria a terceira e nós finalmente os quartos, mas aos berros ela conseguiu convencer a gerente que houve alguém ali primeiro de todos, que já havia pago e ido embora e que ela não sairia do mercado sem ser a quarta, magina você quantos primeiros e quartos não passaram por ali durante o dia inteiro, mas beleza.
Pois bem ela foi a quarta, e o caixa do lado abriu, e lá foi ela feliz com suas compras, tudo na paz novamente, acharam o quarto, graças ao poderoso.
Depois de tanto rir e estar com a cara no chão pelo fato que havia acabado de acontecer fui passar nossas compras, tudo ok quando o caixa passa a última compra e diz:
-€0,25, por favor.
O Alfons olha pra cara do caixa e diz:
-Perdão?
-€0,25 senhor, aqui no nosso mercado nós temos uma politica que se há apenas um caixa aberto e o cliente espera muito tempo numa fila só, as compras são de graça do quarto cliente em diante até abrir o próximo caixa.
Com sorriso nos labios nos olhamos, "pagamos", agradecemos, saímos e fomos em direção ao carro numa alegria jamais vista. Paramos pra contar quantas coisas havíamos pego, comemoramos a cada palmito, cada queijo parmesão, cada azeitona carbonell, nos chateamos pelo que não pegamos pro mês inteiro. Voltamos pra casa, fizemos a pizza e foi a melhor pizza ever. O sabor do dinheiro, ou melhor o sabor da não necessidade de uso dele.
Rimos a noite toda comentando o fato e fomos dormir satisfeitos.
Simples fatos que me fazem ver o quanto holandesa estou, o quanto mão de vaca me tornei, a noite terminou com a certeza que se eu soubesse que todo aquele quebra pau no mercado era pra não precisar pagar, eu seria uma que quebraria uns dentes ali também.
E salve o quarto da fila.


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